Manifesto Lambe Lambe

Aborda + Lambes Brasil

Carolina Herszenhut
6 min readAug 2, 2021

Pensar e construir uma NOVA JORNADA DA ARTE é o ponto de partida do trabalho da Aborda, somos uma plataforma de gestão de carreiras de artistas visuais, que está atenta às transformações do mercado. Estamos constantemente desenvolvendo novas formas de diálogo entre artistas e o mercado, e pensando nisso convidamos a Lambes Brasil, que é a principal plataforma de divulgação e mapeamento de lambe-lambe do Brasil para construirmos juntos, durante do mês de julho, um conteúdo inteiro dedicado a essa técnica.

“A intenção aqui foi multiplicar nossos conhecimentos e paixões e mostrar que sim, nós usamos uma técnica apaixonante que pode e deve ser respeitada e multiplicada para diversos usos, estudos e casos.”- Conta Bruna Alcantara, artista e integrante da Lambes Brasil

Unimos forças para mostrar as possibilidades dessa técnica. Impulsionar o lambe é uma forma de procurar por respeito. Há muitos anos, o papel e a cola, através da feitura de cartazes, são utilizados como publicidade ou pela simples vontade de comunicar uma mensagem. Se na antiga União Soviética os cartazes urbanos davam palavras de ordem e populismo, foi também assim, com temáticas políticas, que o lambe-lambe se espalhou pelo Brasil: nos movimentos estudantis e sindicais, principalmente nas décadas de 60 e 70, com duras críticas ao período da ditadura militar, a arte de espalhar papel por ruas, postes e superfícies urbanas tornou o lambe lambe uma linguagem de pertencimento à cidade. Nascia também aí, o cartaz como forma de expressão artística.

De lá pra cá, são anos em luta para transformar a arte urbana em uma arte reconhecida. Se o grafite e o picho saíram à frente, nós entendemos e adoramos. É realmente preciso ocupar e resistir.

Horas de estudo e técnica, levaram diversos artistas do lambe-lambe ao amadurecimento estético, o que permite um trabalho em diferentes escalas. Quando se fala em papel e cola, se imagina uma folha simples. Mas você já parou para pensar que diversas folhas unidas formam desenhos de escalas infinitas? Foi por isso que optamos por entrevistar artistas de lambe que conseguem transformar ideias em superfícies urbanas de grande escala. Primeiro, o artista Alberto Pereira (RJ) entrevistou o artista Bueno Caos (SP). O público que acompanha a Lambes Brasil e Aborda pode entender que as possibilidades do fazer manual do papel são infinitas. Bueno Caos nos mostrou a possibilidade de mesclar o trabalho comercial com o autoral. Sua mensagem espalhada por muitas cidades no Brasil, tão política e tão necessária, para além de empenas nas principais avenidas de São Paulo, têm também ocupado estabelecimentos privados e comerciais. Exemplos disso são suas artes no Porto de Santos ou em elevadores de prédio comercial no Rio de Janeiro.

Siga @buenocaos, no Instagram para acompanhar o trabalho do Luis Bueno.

Também nesse mês de julho, Alberto Pereira, idealizador da Lambes Brasil e o único artista da Aborda que utiliza a técnica do lambe, fez um grande feito e que deve ser celebrado: envelopou uma caixa d’ água, totalizando uma arte em papel de 200 metros quadrados.

Trabalho Alberto Pereira para a Secretaria Municipal de Cultura de São paulo

“Trabalhos como esses revelam como o lambe-lambe, assim como o graffiti e o muralismo, é uma técnica possível de ser trabalhada em diferentes projetos e finalidades. Num momento onde a arte urbana tem sido grande aliada na construção de discursos e valores para as marcas, acredito que o lambe lambe é capaz de emprestar autenticidade, ineditismo e força, unindo itens importantes para empresas sem perder sua poética. É uma técnica que precisa de mais espaço e por isso essa ação conjunta é tão importante para nós.” — Carol Herszenhut.

E para mostrar a importância dos trabalhos em grandes escalas e formatos, entrevistamos o artista francês Julien de Casabianca, que há anos tem fotografado obras em museus e espalhado por prédios de diversos lugares do mundo. Ele nos contou que sua experiência com lambe-lambe começou após visitar o museu do Louvre, em Paris, na França. Segundo Julien, ele se encantou pela pintura de uma moça, tirou uma foto e imprimiu no tamanho de uma pessoa para colocar na rua.

“Depois que fiz o meu primeiro lambe vi como era poderoso. Hoje, já desenvolvi uma cola com uma empresa. Ela garante uma colagem definitiva. Além disso, utilizo um papel específico e tenho alguns truques de corte para evitar tensões no papel durante a secagem. Ao final, adiciono o verniz. Dessa forma, só é possível retirar o lambe-lambe com uma retificadora.” — Julien de Casabianca

Para realizar as colagens, o artista e cineasta Casabianca utiliza imagens de celular, HDs do museu e até mesmo fotos disponíveis no Google. Ele explicou que quanto maior o lambe, menos se precisa de uma boa resolução. Em 2017, Julien viajou por mais de 17 cidades, dentre elas o Rio de Janeiro. De acordo com a matéria do jornal O Globo, o artista fotografou obras de diversos museus e realizou lambe-lambe ao redor deles. Aqui no Brasil, as artes ficaram no Museu de Arte do Rio (MAR) e em favelas da cidade.

“Adoro paredes com cornijas, baixos-relevos, esculturas, colunas, janelas e portas. Os trabalhos mais difíceis que realizei foram em Bordéus (França), Memphis (Estados Unidos). No mês passado fiz um lambe-lambe de 250 metros quadrados em uma igreja em Córsega (França), foi a maior arte que eu já realizei.” — Julien de Casabianca

Veja mais imagens do trabalho de Julien pelo instagram @julien_de_casabianca

É lógico que o lambe, por ser uma arte de rua, tem por si só um quesito contestador e crítico. E que legal quando empresas e comércios entendem que isso tem a ver com posicionamento de marcas e estabelecimentos e nos convidam e contratam para trabalharmos nossa arte e ideologia em seus estabelecimentos. Por isso, também fizemos postagem nas nossas redes sociais, sobre as diversas formas que o Lambe pode ser utilizado.

A exemplo, o trabalho da artista Bruna Alcantara (PR) e do artista Roni Evangelista (SP), ligados à moda, saem das ruas e muros e vestem corpos com questões feministas e sociais. Ou, o trabalho do artista Tacio Russo em lambes com poesia, que começa a ocupar paredes de apartamentos ou casas de pessoas que querem e consomem arte como objeto figurativo de suas vidas pessoais.

Veja o post

Para valorizar também as mulheres, numa onda feminista que nos atinge como artistas e produtorxs, consagramos as artistas negras que usam a técnica do lambe-lambe em seus trabalhos. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latina e Caribenha, que é celebrado na data de 25 de julho, mostramos nas redes as artistas:

Veja o post

Anne Souza (PE)

Beatriz Paiva (PA)

Eve Queiroz (SP)

Jéssica paulino (MG)

Kerolayne Kemblin (AM)

Silvana (MA)

Tem sido assim, de passo em passo, ou de folha em folha, que pretendemos difundir e realizar muitos trabalhos a fim de exterminarmos o preconceito sobre essa técnica. Viemos para dizer que é para ficar. Continue acompanhando as plataformas Aborda e Lambes Brasil para continuar a conhecer os artistas deste cenário.

Esse texto faz parte de uma série de textos em parceria e foi escrito junto com a Lambes Brasil.

A Lambes Brasil é uma plataforma criada em 2016 pelo artista Alberto Pereira (RJ) com o intuito de fomentar e valorizar o lambe-lambe no contexto das artes visuais brasileiras. Através de parcerias e iniciativas independentes busca fortalecer o cenário aos artistas e produtores gerando reconhecimento da técnica e prática artística perante público, empresas, instituições culturais, demais artistas e linguagens artísticas.

Me chamo Carolina Herszenhut, atuo como agente cultural e ativista, através da minha produtora Aborda trabalho agenciando artistas visuais nas cidades do Rio e São Paulo, em 2012 criei O Cluster, a primeira e maior plataforma de economia criativa do Rio de Janeiro. Realizei mais de 25 eventos com mais de 100.000 pessoas nas cidades do Rio, Belo Horizonte e Recife. Recentemente completei o curso de Gestão e Criação Contemporânea na La Casa Encendida em Madrid e tem MBA em Gestão Cultural pela Associação Brasileira de Gestão Cultural. Desenvolvo e atendo clientes como Museu do Amanhã, CCBB, Heineken, Redbull, Boticário, Michelin, Skyy, Consulados, Governos e ONGs.

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Carolina Herszenhut

Agente cultural e ativista, idealizadora da Aborda uma plataforma de gestão de carreiras de artistas visuais.